RESENHA: Graphic Novel Arlindo (Editora Seguinte)

Que tal uma indicação de Boys Love nacional, super amorzinho, daqueles de aquecer o coração? Apresento a vocês a Graphic Novel Arlindo, escrita e ilustrada por Luiza de Souza, também conhecida na internet como @ilustralu. Arlindo faz parte do catalogo de publicações da Editora Seguinte, não preciso nem dizer que é garantia de qualidade não é mesmo? Mas irei parar de enrolar, sei que você leitor esta curioso para saber sobre o que se trata esse quadrinho. Então vamos lá …

Arlindo é um garoto cheio de sonhos e vontades de encontrar seu lugar no mundo. Tudo o que ele quer é seguir sua vida de adolescente na cidadezinha onde mora, no interior do Rio Grande do Norte. Ele aluga filmes na locadora com as amigas todo sábado, sente o coração bater mais forte pelas primeiras paqueras, canta muito Sandy & Junior no chuveiro, e ainda cuida da irmã mais nova e ajuda a mãe a fazer doces para vender. Por mais que ele se esforce e dê o seu melhor, muita gente na cidade não aceita Arlindo - o que traz uma série de problemas na escola e até mesmo dentro de casa. Aos poucos, porém, ele vai perceber que vale a pena lutar para ser quem ele é, ainda mais quando tem tanta gente com quem contar” – sinopse editora seguinte.

Não sei se você que esta lendo esse texto é uma pessoa do meio LGBTQI+ ou apenas simpatizante, mas a vida de alguém LGBTQ+ em seus primeiros anos na maioria das vezes infelizmente não é fácil. Desde cedo convivemos por muito assedio de expectativas seja das pessoas em casa ou da sociedade que nos olha de forma diferente. Quantas crianças geniais não tiveram problemas na escola em sua infância porque um “colega” ou um grupo de “colegas” a importunava, chamava de coisas que nem ela mesma sabia o que era ou se era aquilo. Muitas vezes as pessoas de nossa convivência nos apontam o dedo e nos dizem coisas tão intimas que nem nós mesmo entendemos de primeira.

Vocês devem estar se perguntando porque diabos ele esta falando isso, mas o nosso protagonista passa por exatamente esse tipo de situação. Ele é uma criança genial, carinhosa, atenciosa, amorosa, companheira, mas ao mesmo tempo precisa lidar com a rejeição do pai alcoólatra que o maltrata sempre que possível e empoe limites que sinceramente não levam nenhum menino a ser um homem. Até porque afinal, o que seria ser um homem? Uma pessoa honesta, respeitosa, do bem? Ou um machista, bêbado, que coça o saco e bate na mulher? Eu sinceramente acredito que é a primeira opção.

O mais frustrante é saber que além das dificuldades que tem dentro de casa, ainda tem de lidar com a rejeição do mundo, os olhares, as brincadeirinhas de mal gosto. Afinal o que tem de engraçado importunar alguém? Nunca entendi o que se passa na cabeça dos “valentões”. Mas acredito que na verdade não tem nada, além de vento.

"Para quem veio antes de mim, para quem está aqui comigo e para quem ainda virá. A gente nunca esteve só, mesmo quando achou que estava."

Porém nem tudo é só trevas, apesar das incertezas, Arlindo tem grandes amigos que fazem com que ele por alguns momentos seja ele mesmo, respire e não sufoque perante a toxidade do mundo. Além dos amigos, uma nova pessoa entra na sua vida. E o nome dele é Pedro, irmão gêmeo de um dos valentões da escola e diferente de seu irmão, Pedro é um amor de pessoa. Com o tempo a amizade dos dois vai amadurecendo, eles vão se conhecendo cada vez melhor, e Arlindo percebe que talvez não goste de Pedro apenas como amigo.

Algo que gosto muito nesse quadrinho é o fato que tem outros personagens muito importantes para Arlindo, fazendo com que ele perceba que é amado, como a sua avó que é incrivelmente atenciosa com ele, a sua tia Amanda, que por ser lésbica sabe o que é viver em uma cidade de interior onde todos te julgam, a sua mãe que apesar de no inicio da trama ser um pouco distante dele por conta da presença do pai, ao decorrer da historia ela se mostra ser uma mãezona, além das suas amigas que sempre estão com ele pra tudo. Enfim, o quadrinho mostra pro leitor que embora a vida não seja nada fácil, nunca estamos totalmente sozinhos, sempre tem alguém que vai nos apoiar e nos querer bem.

A história desta Graphic Novel é datada, ocorre por volta dos anos 2000 quando Sandy Junior, Pitty, Link Park dentre outros cantores da época estavam em seu auge, em que as Lan Houses estavam em alta e as pessoas passavam a noite trocando mensagens no MSN, idas a locadora dentre outras coisinhas muito especificas dessa geração. Com certeza alguém que viveu durante aqueles anos vai se sentir nostálgico lendo Arlindo.

Ao longo da trama podemos ver o amadurecimento do personagem. Ele passa a se permitir a situações que antes ele simplesmente tinha medo até de pensar, e isso faz com que Arlindo veja tudo por outro ângulo. Principalmente o fato de que ele precisa se amar e se respeitar acima de tudo, pois só assim ele vai poder criar resistência para as coisas chatas da vida. Também podemos ver que personagens próximos ao nosso protagonista também amadurecem e esses amadurecimentos são como uma cadeia para que a vida de Arlindo torne-se mais saudável.

A descoberta do primeiro amor, as primeiras festinhas com os amigos, a primeira ressaca, são experiências simples, que boa parte das pessoas já passaram e certamente vão se identificar ao ler. Tudo sendo tratado com muita sensibilidade tornando-se uma leitura leve e nada desagradável.

A delicadeza do traço da autora, os cenários, os easter eggs, a coloração do quadrinho extremamente vibrante da um toque muito único para o quadrinho, tornando a experiência de leitura incrível. Unindo-se com a edição perfeita que a Editora Seguinte fez em cima desse trabalho, trazendo uma Graphic Novel capa dura, com marca pagina belíssimo, postais, papel de qualidade, fim tudo que eu tenho quanto a edição de Arlindo, é elogios. Pode ser uma ótima opção para você que gosta de ler historias com representatividade LGBTQI+, e esta querendo ler algo novo, ou para você presentear um amigo (com certeza ele/ela irá amar).

Mas agora me falem, já conheciam Arlindo ? Já leram? Se ainda não leu, pretende? Vamos fo-fo-car.

EDUARDO MATEUS (@IDUMATEUS)BLOG (@SOMAISUMALEATORIO)

2 comentários sobre “RESENHA: Graphic Novel Arlindo (Editora Seguinte)

  1. Priih disse:

    Oi Eduardo, tudo bem?
    Eu tenho amado ver representações de minorias de forma positiva, com otimismo e coisas boas, e não só sofrimento, sabe? Acho que Arlindo acerta nisso: mostra as fases difíceis mas mostra o quanto a vida pode ser bonita e que o público LGBTQIA+ também tem direito a ler uma história de amor fofa. Ai, só elogios a Arlindo! ♥♥♥
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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